segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tese do Movimento Classe Contra Classe para o CONCLAT

Tese do Movimento Classe Contra Classe para o CONCLAT
5 e 6 de junho de 2010 – Santos/SP



Nosso chamado
Os trabalhadores, delegados e dirigentes da LER-QI e independentes da USP, metroviários, trabalhadores da Sabesp e professores, que conformamos o Movimento Classe contra Classe (MCcC) escrevemos estas teses, nos dirigimos aos delegados do CONCLAT para apresentar nossas propostas. Nós viemos participar deste Congresso Nacional da Classe Trabalhadora como construtores da Conlutas.

Achamos que os trabalhadores precisam se libertar da exploração capitalista e construir uma nova sociedade sob seu domínio.

Partimos da compreensão que somente a classe trabalhadora organizada de forma independente dos patrões, dos governos e da burguesia e suas instituições e partidos, pode ser o sujeito capaz de nos livrar da opressão e exploração em que vivemos e oferecer uma saída a todos os setores oprimidos.
A classe operária precisa de sindicatos e centrais independentes dos governos e, por isso fazemos parte da Conlutas.

Para passar à ofensiva a classe operária precisa reverter a derrota que o neo-liberalismo impôs e superar a burocracia sindical que foi seu agente em nossas fileiras, levantando bem em alto a bandeira de: unidade das fileiras operárias entre efetivos, contratados, terceirizados, e desempregados com iguais direitos.

Os sindicatos e centrais sindicais combativas tem que colocar no centro esta elementar demanda, contra o corporativismo das burocracias sindicais que só defendem uma pequena minoria de nossa classe: os trabalhadores efetivos e com carteira assinada.

Viemos ao CONCLAT chamar a atenção para a necessidade de recuperar as organizações da classe operária como ferramentas de luta e combativas, contra o modelo varguista de atrelamento de ao Estado burguês, mais também queremos chamar a atenção sobre a necessidade de combater o “modo petista / cutista” que impuseram um modo de militar e dirigir, baseado num sindicalismo só para aceitar rebaixamento de direitos e migalhas. Um sindicalismo colaboracionista, inofensivo, de respeito as “datas base” que representa de fato uma regulamentação da luta de classes. A Força Sindical e a CUT nos tem acostumado a lutas de pressão testemunhais, atos, festivais e passeatas, e muita propaganda combativa e até de promessas socialistas nos carros de som.

Os que assinamos estas teses, viemos participar deste Conclat para por no centro da discussão que a unidade de Conlutas com a Intersindical, só será progressiva se for classista.

Nós achamos que hoje a chave para distinguir um sindicato classista e combativo de um sindicato corporativo, é a sua atitude para os setores mais explorados da classe operária, e sua luta conseqüente para que os efetivos assumam esse programa de unidade elementar.

Viemos também propor como parte dos debates que se desenvolveram nas plenárias preparatórias contra o burocratismo, avançar num funcionamento democrático para a futura central que possa surgir desta fusão.
Propomos que a central funcione com plenárias reais de delegados e não só das correntes, com mandato das bases e todo seja resolvido em assembléias.
Propomos também participação proporcional e liberdade para as diversas tendências pró-operárias nos sindicatos e centrais.

Não concordamos com a corrente majoritária da Conlutas que propõe liberdade de todos os partidos em geral (da mesma forma que faz a burocracia sindical para manter a sua hegemonia política dos partidos burgueses, de forma encoberta), e põe um sinal de igual entre partidos burgueses e operários. Essa é uma velha política da burocracia sindical, que lamentavelmente as correntes de esquerda adotam.

Nosso modelo é desenvolver um sindicalismo combativo e classista, baseado na luta de classes que tenha em conta as relações de forcas e busque o triunfo dos trabalhadores como fizemos os que escrevemos estas teses na direção do conflito dos trabalhadores de a USP em 2009 inclusive desafiando a presença permanente da PM no campus.

Reivindicamos esse sindicalismo em que combinamos as medidas concretas de ação, procuramos a coordenação com as outras categorias em luta (que lamentavelmente não conseguimos ainda com o peso que tem a esquerda em elas).

Um sindicalismo classita, que impediu ações ultra-esquerdistas deslocadas da categoria e soube utilizar as contradições que levaram a os intelectuais petistas a se oporem a reitora e o governo do PSDB fazendo uma frente anti-Serra com objetivos eleitoreiros que nós soubemos utilizar a favor da greve sem capitular a eles e sua estratégia.

Um sindicalismo que combinou a luta jurídica, a luta política e a luta concreta da categoria, que propôs a frente única aos estudantes assumindo suas demandas numa pauta unificada, que combinou no programa as reivindicações econômicas da categoria, junto as demandas democráticas contra os ataques ao sindicato e estudantes, e com as consignas organizativas.
Um sindicalismo que se baseia nas assembléias como a direção fundamental onde se decide tudo. Com delegados das unidades e comitês de greve reais que ampliam e constituem a direção efetiva do sindicato na luta.

Nós reivindicamos o modelo que estão desenvolvendo os trabalhadores argentinos da multinacional Kraft que conseguiram configurar um embrião de unidade entre empregados, desempregados e estudantes, compondo uma aliança de classes pela qual eles lutam.

Ainda que não conseguiram mobilizar massivamente, puderam fazer com que centenas de estudantes garantissem onze fechamentos das principais rodovias do país, onde se encontra a concentração industrial mais importante. Enfrentaram a repressão policial, e conseguiram responsabilizar publicamente o governo dito populista dos Kirchner. Conseguiram criar uma crise no governo, dividir as burocracias sindical e até fazer intervir a embaixada dos EUA. Estas ações acompanhadas por ações solidárias das organizações de desempregados, contribuíram para dar uma grande visibilidade, obrigando os meios comunicação a ter que difundir o conflito operário, se pode imaginar o que aconteceria se essa força se desenvolve em novos conflitos o que poderia acontecer aqui no Brasil se pudesse-mos conseguir essa coordenação entre as organizações sociais e sindicais que já fazem parte da Conlutas. Esta é a diferença entre uma perspectiva classista para os sindicatos e centrais, e a que se desenvolve com discursos e mera propaganda.

Não queremos um sindicalismo que se prepare prioritariamente para superar a burocracia nas alternâncias eleitorais a cada dois anos, enquanto se perdem conflitos e avançam os ataques.

Não queremos um sindicalismo que compartilha muitas executivas com as direções governistas, como acontece hoje com APOESP no meio da greve dos professores, onde a Oposição Alternativa contraditoriamente não apresenta nenhuma alternativa nem ao programa apresentado pela maioria do PT, nem medidas organizativas para superá-los, se convertendo em cúmplices das derrotas sofridas pela categoria nestes dois últimos anos.

Lutamos por um sindicalismo classista e combativo para apresentar uma alternativa a burocracia fundamen-talmente na luta, e assim poder triunfar.

Desde aqui nos posicionamos para discutir e considerar a unidade da Conlutas com a Intersindical. Unidade sim, mas temos que perguntarmos para que modelo de sindicalismo.

Chamamos a todos os trabalhadores, correntes e delegados que tenham acordo com nossas teses ou compartilhem o conteúdo do sindicalismo que defendemos, a lutar juntos neste Conclat.



























1. Internacional: nova fase da crise
Três elementos chaves se combinaram no cenário econômico global. A situação econômica e financeira vivida por três países da zona do euro – Grécia, Portugal e Espanha – e, mais em geral os chamados, depreciativamente, PIGS (iniciais dos primeiros três países mais a Irlanda, e que em inglês significa porcos), devido à situação crítica das suas economias, seus imensos déficits orçamentários e dívidas públicas. Na Grécia e na Espanha são anunciados e já estão sendo implementados planos de duros ajustes fiscais, reformas trabalhistas, cortes e descontos salariais.

A Grécia antecipa as primeiras respostas dos trabalhadores e do movimento de massas e na Espanha há uma tensa situação política, e o governo de Zapatero caiu aos níveis mais baixos de popularidade. Isso se combina à crise no relacionamento entre a China e os EUA que teve origem na recusa da China de valorizar o yuan, um problema que dificulta as intenções dos EUA de aumentar a sua competitividade internacional e reduzir as importações. A resposta dos EUA é ofensiva, com a venda de armas para Taiwan e o encontro de Obama com o Dalai Lama, contra a vontade do governo em Pequim. A localização da economia dos EUA combina um crescimento anualizado de 5,7% do PIB para o quarto trimestre de 2009 com o desemprego que se mantém em cerca de 10%, e uma profunda crise fiscal e da dívida, que empurram para baixo a popularidade de Obama e os recentes reveses do Partido Democrata. Esses três elementos são expressões dos limites da forma como o capitalismo impediu que a recessão fosse transformada em depressão, manifestando-se mais ou menos mediada na crise orçamentária e na dívida pública. Esta poderia ser a abertura de um novo ciclo de crise econômica global.

Impacto da transformação da dívida privada em dívida pública

Pacotes de estímulo fiscal e taxas de juro historicamente baixas foram os principais mecanismos para reanimar a demanda e o crédito. Evitando uma limpeza de capitais na magnitude que a crise exigia, conseguiu conter a atual economia deprimida, mas também mudou o problema para outro lugar, não conseguindo resolvê-lo em sua casa. A intervenção dos estados para conter o curso da crise gerou, assim, um resultado de duas faces: contém a quebradeira dos negócios privados à custa de absorver a crise e incentivar a geração de uma nova bolha de dívida pública. O problema está em que, por um lado, a dívida pública constitui, como dizia Marx, o mais fictício de todos os capitais fictícios, já que carece de qualquer tipo de contrapartida real. Por outro lado, no primeiro ato o Estado agiu como avalista dos negócios capitalistas; num segundo ato, se os estados passam a ser o alvo, quem vai socorrê-los?

Os limites das políticas de saída da crise se expressam, assim, com todo seu potencial nos países mais pobres da zona do euro, nos quais o antídoto contra a depressão econômica não pode deixar continuar o endividamento estatal se desejam manter-se no marco da moeda europeia. Os países mais ricos, como a Alemanha e a França, procurarão manter o euro à custa da exigência de planos neoliberais para os países mais, dando continuidade às políticas de “keynesianismo financeiro” nos países ricos. No fechamento desta edição se soube que os governos da eurozona haviam decidido ajudar a Grécia, o que abre a possibilidade de que em troca do plano de ajuste anunciado pelo governo seja preparado algum tipo de salvamento que suavizaria momentaneamente as pressões no mercado de títulos.

A atual crise europeia recoloca em cena o velho-novo problema de que a Europa não é nem pode ser um “supra-estado”. Nos anos 20 o economista inglês John Maynard Keynes denominou o continente europeu como uma “casa de loucos”. A impossibilidade da unidade capitalista europeia (e o papel do euro) representa um problema agudo que, mesmo que pela primeira vez na história, hoje volta a se expor em toda sua dimensão.

O crescimento dos EUA e o aumento das tensões com a China

Há poucos dias foram divulgados dados de crescimento dos EUA no último trimestre de 2009, com uma cifra positiva de 5,7% do PIB anualizado. Este crescimento aparentemente impressionante, que certamente foi o maior desde o início da crise no final de 2008, se explica principalmente pela recomposição dos estoques das empresas e os pacotes governamentais de estímulo ao consumo. Tal qual com os “PIGS”, os déficits e o endividamento estatal desempenham um papel central em recuperar a economia dos EUA, que está acumulando o maior déficit desde a Segunda Guerra Mundial e tem a maior dívida pública do mundo, equivalente a mais de 12 trilhões de dólares. As dúvidas sobre a capacidade de pagamento podem resultar numa fonte permanente de instabilidade na economia norte-americana e mundial. A taxa de desemprego é de cerca de 10% e representa um dos problemas mais graves enfrentados pelo Estado. Os índices de recuperação da economia não afetam a taxa de desemprego, que apenas conseguiu deter o ritmo de sua elevação. Este problema está na base da queda de popularidade de Obama e do debilitamento do Partido Democrata. O caráter pouco genuino da recuperação da economoa norte-americana e, com ele, o elevado desemprego, são os elementos que determinam que os Estados Unidos tenham apostado por uma política de dólar baixo que implica uma atitude internacional mais ofensiva com o intuito de aumentar a competitividade e reduzir as importações. É nesse contexto que ganha relevância sua relação com a China. As próprias contradições da recuperação negam a possibilidade de que se restabeleça o equilíbrio relativo entre China e Estados Unidos que regeu durante os últimos anos, e determinam uma política internacional mais agressiva da parte dos Estados Unidos. Eles precisam que a China valorize o yuan , pretendendo diminuir as importações mas também para captar uma importante parcela de seu mercado interno. Estes são os elementos por trás da mudança na política “amigável” norte-americana e sua atual ofensiva sobre a China com o objetivo de debilitá-la e subjugá-la .

Rumo ao incremento das contradições
Muito além dos tempos concretos, estamos diante dos primeiros elementos de uma nova rodada da crise mundial que muito provavelmente aumentará as contradições no interior dos blocos ou semi-blocos, entre os Estados, com maiores ataques ao movimento de massas, maiores desigualdades econômicas e maior luta de classes. Não parece que no imediato se volte a um curso depressivo coordenado do conjunto da economia mundial, como ocorreu não final de 2008, entre outras questões porque o principal afetado por ora não é nenhum país central. Entretanto, é muito provável que de forma mais estendida no tempo estejam se gestando as condições para uma nova recaída que, numa primeira etapa, provavelmente seja mais desigual que a de 2008, porém que no médio prazo possa voltar a colocar na cena de forma mais violenta não apenas as condições da depressão econômica mas também aquelas do enfrentamento entre estados e do desenvolvimento da luta de classes.

América Latina
No que diz respeito à América Latina, Obama se aproveitou das ilusões que desperta e de acontecimentos políticos na região para ampliar a presença direta do imperialismo na região, que por sua vez debilita a política de Lula de se alçar como mediador entre o imperialismo norte-americano e as nações latino-americanas, e disputar cotas de poder regional. Esta ofensiva renovada do imperialismo sobre a América Latina se demonstra também na restituição da IV Frota Naval dos Estados Unidos nos mares da América do Sul, nas novas bases militares na Colômbia, e agora na presença militar ostensiva e sem data para terminar no Haiti. Este último elemento atua ainda como pressão restauracionista sobre Cuba, já que o Haiti ocupado pelos EUA está a poucos quilômetros de distância de Cuba, e como toda região do Caribe, mantém uma dinâmica interligada entre os países que a integram. Também termina por golpear o bloco da ALBA, sobretudo Chávez - que ajudou a semear as ilusões em Obama afirmando que se abria um novo capítulo das relações entre a região e os EUA - mas que está se debilitando, tanto internamente, quanto como corrente latino-americana. Entretanto, não devemos tomar este processo como se fosse um momento de ofensiva absoluta da direita, mas antes como uma situação de maiores enfrentamentos e instabilidades. Um exemplo é o fato de que houve resistência popular ao golpe em Honduras e há o início de lutas dos trabalhadores, como contra o fechamento da empresa Luz y Fuerza no México e as lutas operárias, com destaque para Kraft, na Argentina, que marcam o fim do ciclo kirchnerista.

Como resposta à maior intervenção imperialista na América Latina, os governos da região se lançaram a constituir defensivamente uma OEA “sem Canadá e EUA”, buscando ampliar as possibilidades de acordos parciais frente as incertezas econômicas que pairam no cenário internacional.

Lula, que hoje é tido como principal liderança na América Latina, busca ao mesmo tempo se firmar como protagonista em todos os temas de importância geopolítica na região, uma espécie de aparente “sócio menor” do imperialismo para os temas latino-americanos. Embora tenha tentado aparecer com uma posição “independente” em relação ao tema das sanções ao Irã não busca enfrentamentos com os EUA. Entretanto, o fato do imperialismo de Barack Obama ter uma política mais diretamente protagonista na América Latina impõe limites às pretensões lulistas, de emergir como o grande negociador latino-americano. Mesmo assim, Lula tem buscado aproveitar as brechas abertas internacionalmente pela decadência da hegemonia norte-americana para aparecer como maior protagonista nos temas internacionais, inclusive sobre os quais o Brasil não está diretamente envolvido, como em relação ao Oriente Médio. Um exemplo foi a recente visita de Lula em Israel.

No plano da política internacional, o chavismo, como principal corrente latino-americana, se colocou à prova e sofreu derrotas. Seu discurso anti-imperialista foi muito apaziguado durante a eleição de Obama quando anunciou este como um “bom vizinho”. O bloco bolivariano da ALBA, impulsionado por Chávez não usou a influência que possui para preparar politicamente os países ante a ofensiva que os EUA planejaram através da máscara de Obama, pelo contrário. A incapacidade de Chávez em liderar uma alternativa concreta à ofensiva da dominação norte-americana na América Latina e sua aceitação pacífica de tal ofensiva mostra mais uma vez a fraqueza e subserviência da dependência da classe burguesa que sustenta seu governo. Isso se combina com mais debilidades internas marcadas pela crise internacional que deixou exposta a enorme dependência do quinto exportador mundial de petróleo. Chávez lançou um plano de desvalorização da moeda nacional que causa um aumento imediato dos preços dos artigos de primeira necessidade, além de um plano de racionamento energético que pressiona sua popularidade e influência a cair.

O movimento operário pela sua vez, sofreu nos últimos anos uma repressão sistemática através de assassinatos e atentados contra dirigentes sindicais por via de capangas contratados pela patronal às vistas grossas dos governantes chavistas. Hugo Chávez ameaçou militarizar empresas estatais que estiveram em luta, como a Guayana e o Metrô de Caracas acusando os trabalhadores de “sabotadores”, e um plano operativo contra qualquer mobilização no vale do Orinoco e Sidor, marcando a ofensiva de Chávez contra o sindicalismo independente, prendendo seus dirigentes, e os setores à esquerda do movimento operário.

É por isso que os setores combativos e classistas temos que chamar os operários a não depositarem nenhuma confiança nesses governos burgueses de direita, e desmascarar ainda mais aqueles que enganam o povo, se disfarçando com discurso de esquerda, seja socialista ou nacional e popular.

Por fim, é fundamental ressaltar também o processo de profunda crise política que se desenvolveu na Argentina com o esgotamento do ciclo kichnerista enquanto alternativa burguesa à crise de 2001 e que agora prova sua decadência. Dois projetos burgueses entraram em choque desde a crise do campo em 2008, que deu aos Kichner sua primeira derrota, em uma guerra de interesses econômicos: por um lado a ultra-conservadora burguesia agrária, que logrou uma mecanização do campo e a partir da subida das commodites pôde surfar no último ciclo de crescimento econômico, e pelo outro a burguesia industrial, base de apoio dos Kichner, que desde o início os protegeu a partir da isenção de impostos. A crise nas alturas não parou de se aprofundar desde a derrota do governo nas eleições legislativas de junho do ano passado e diversos conflitos vem se travando entre setores burgueses. De forma que se atualizam as duas principais forças da burguesia da Argentina semicolonial, o imperialismo norte-americano e a classe trabalhadora.

Nos interessa ressaltar com muito destaque o processo chamado pela mídia argentina como “sindicalismo de base”, liderado pelo combativo sindicato Ceramista e os operários de Zanon que há 8 anos mantém a fábrica sem patrões produzindo sob seu controle, junto aos combativos delegados dos metroviários da cidade de Buenos Aires, que estão lutando pelo reconhecimento de seu sindicato independente, e agora com a incorporação da combativa comissão interna dos trabalhadores de Kraft.

Esse é o sindicalismo que nós reivindicamos, classista, combativo, para que a classe operária possa triunfar.

Somos irmãos destes trabalhadores combativos e classistas e defendemos esse sindicalismo.

Internacionalismo proletário
Viemos colocar a necessidade de retomar o internacionalismo proletário das primeiras décadas do século passado onde os trabalhadores como colocava Marx consideravam que a classe operária não tinham pátria. Nesse sentido viemos reforçar a necessidade das campanhas de solidariedade internacional como foram contra o golpe de Honduras, ou pela retirada das tropas brasileiras do Haiti, ou em apoio as lutas dos trabalhadores latino-americanos, e na defesa contra os ataques patronais e governamentais.

Viemos chamar a atenção para que estas campanhas sejam feitas respeitando a independência política dos trabalhadores como uma estratégia que não pode ser negociada. Nossa corrente não aceita nem apóia nenhuma saída burguesa sob pretexto de defesa da democracia.

Não existe nesta sociedade uma democracia em geral, a democracia tem caráter de classe, dependendo quem domine o estado. Por isso, em Honduras ainda que lutemos lado a lado junto as massas que enfrentavam a ditadura e queriam a restituição de Zelaya, nao compartilhamos esta demanda de repor um governo burguês, e sim procuramos o tempo todo que, a partir da própria mobilização das massas, estas possam conquistaram o poder com suas organizações em luta.

Temos que discutir e assumir no CONCLAT um verdadeiro programa anti-imperialista começando pela retirada das tropas de nosso continente e de todo o mundo (Iraque, Afeganistão, etc.). Abaixo o bloqueio a Cuba, defesa de todas as conquistas de estado operário, contra a burocracia e todos os restauracionistas, neste sentido temos que denunciar o papel nefasto de Lula nesse processo.

2. Conjuntura nacional
Para que nos preparamos? A continuidade com Dilma, sem Lula. Dilma Rousseff é a candidata oficial à sucessão de Lula, homologada festivamente no IV Congresso do PT, encerrado no sábado (21/02). Em clima de euforia e aclamação Dilma disse receber “a honrosa tarefa de dar continuidade à magnífica obra de um grande brasileiro”, o presidente Lula. Cabal confissão de que se eleita não tem projeto distinto, cabendo-lhe continuar o que foi feito nesses dois mandatos lulistas. Também é uma senha para dar confiança aos monopólios imperialistas e nacionais, industriais e financeiros – os que realmente determinam a política nacional – de que seus negócios e lucros estarão garantidos. A candidata Dilma reafirmou os pilares econômicos do último ciclo de acumulação capitalista: “Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante”. Esses fundamentos da política econômica foram seguidos à risca pelo governo Lula, que em 2002, na Carta ao Povo Brasileiro, lançava a senha de que os capitalistas nacionais e internacionais poderiam confiar que ele seguiria aplicando o que vinha do governo FHC.

Desde a década de 1980 até início da década de 1990, os planos econômicos primavam por medidas que garantissem aos capitalistas a transferência de renda extraordinária – acima da mais-valia extraída da exploração dos trabalhadores – pelo processo inflacionário, elevando os preços de produtos e serviços enquanto os assalariados, mesmo quando indexados, não acompanhavam a escalada inflacionária. O novo processo de acumulação capitalista iniciado no início da década de 1990 (Collor) com a abertura comercial e financeira e as privatizações colocou à frente os interesses do sistema financeiro nacional e dos mercados internacionais (fundos de investimentos, bolsas de valores). Os negócios com títulos da dívida pública passaram a ter papel preponderante. O governo devia financiar a rolagem da dívida, e para isso necessitava de capitais. O setor financeiro e bancário passou, então, a ser o maior detentor de títulos da dívida, ganhando fabulosos lucros com os juros que recebia, além de poder utilizar esses papéis (a valor de face, conhecidas “moedas podres”) nas privatizações.

Dívida pública: carga insuportável para o povo e o país e, fonte de lucro para os capitalistas.
O tripé econômico que Lula herdou de FHC - equilíbrio fiscal, controle inflacionário e política de câmbio -, e que Dilma promete continuar, responde aos interesses dessa fração burguesa bancária e financeira que há mais de uma década determina as finanças públicas em prol dos seus lucros e extração de renda extra. O superávit primário e a Lei de Responsabilidade Fiscal (para governos estaduais e municipais), cerne das finanças públicas, foram instituídos por FHC. Por esses mecanismos os orçamentos públicos federal, estaduais e municipais têm que separar primeiro o dinheiro para pagar os juros dos títulos da dívida pública em mãos dos banqueiros, fundos de investimentos, de pensão e detentores individuais. Depois, com o que sobrar, pode-se tentar “planejar” gastos sociais e políticas públicas. Por isso sempre os capitalistas exigem a diminuição dos gastos públicos - salários dos servidores, educação, saúde, transporte, moradia popular, saneamento etc. - com o falso argumento de “equilíbrio fiscal” (receitas e despesas).

Durante o governo Lula a dívida pública continua sendo o principal fator de acumulação capitalista, beneficiando os mesmos setores burgueses - banqueiros, financistas, monopólios nacionais e estrangeiros. Não à toa ele, que em 2002 “assustava” esses capitalistas passou a ser venerado como garantidor da estabilidade econômica, política e social que permitiu preservar os mecanismos de acumulação capitalista. Por sua vez, as reservas cambiais que tanto são cantadas como grande trunfo do governo Lula também não entram. Dilma disse que “aumentamos nossas reservas de 38 bilhões de dólares para mais de 241 bilhões”, mas também não quer explicar o custo dessa “empreitada”. Quando o governo aumentou as reservas cambiais ele teve que comprar dólares, e para isso fez empréstimos, vendendo títulos da dívida pública, pagado juros. O governo paga os juros dos títulos da dívida aos seus detentores (débito) e o que recebe (crédito) pelas reservas aplicadas fora é bem menos.

O que será o pós-Lula com Dilma eleita?
Como a candidata Dilma afirma com todas as letras que tudo será como antes, pode-se prever que o país estará ameaçado pela carga e custo da dívida pública. A Europa já vive o segundo capítulo da crise mundial, com a quebradeira fiscal de Estados (não mais apenas de bancos e empresas) com dívidas elevadíssimas que agora entram em default – incapacidade de pagamentos. Os mal chamados PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) podem contagiar não apenas a Europa mas países como o Brasil, que tem em sua dívida pública a principal alavanca econômica, vulnerável aos choques internos e externos contra a moeda, as reservas, os títulos. Os capitalistas e governantes desses países lançam a velha receita (que os trabalhadores paguem a crise): corte de gastos públicos, demissões, arrocho salarial, fechamento de empresas, dinheiro para salvar os capitalistas.

Se o Brasil pode nesses anos de governo Lula seguir a política de FHC, voltada para os lucros capitalistas (e dos setores bancários e financeiros) com alguns planos assistenciais para a massa pobre e a geração de empregos com salários e direitos precarizados, contando com condições favoráveis da economia (exportações de commodities, consumo estimulado por crédito e isenção de impostos, empréstimos para empresas e bancos) que permitiram manter um clima de conformismo social, consumismo e expectativas no governo, sem a necessidade de ataques diretos e frontais contra os trabalhadores e as massas (a não ser a famigerada repressão e violência policial corriqueira), trata-se de preparar os espíritos para situações especiais em que os choques entre as classes – pela divisão da riqueza nacional – não mais seja tão passivo e tranquilo, posto que os capitalistas vão, ameaçados pela crise, ser mais agressivos contra a massa trabalhadora e os cofres públicos, sem se preocupar se o país vai quebrar ou não (como estamos vendo na Europa), desde que continuem lucrando mais e mais.
As interrogações que pairam:
* Dilma, mesmo ganhando as eleições, poderá navegar em águas turbulentas como Lula surfou as marolas?

* O pacto entre a burguesia, o imperialismo e as direções sindicais governistas que se formou em torno de Lula será mantido com Dilma?

* Ela, que é uma forasteira até mesmo no PT, sem relações orgânicas com as massas trabalhadoras (menos ainda com setores da classe média), diante de turbulências econômicas – em que as classes dominantes não vacilarão para se salvar a afundar as massas – conseguirá conter o descontentamento popular e operário, evitando que lutas sociais e operárias entrem na cena política nacional?

* Num contexto de enfrentamento de classes – trabalhadores e seus aliados contra os capitalistas – apenas a burocracia sindical cutista e dos movimentos sociais ligados ao petismo, sem Lula, serão capazes de evitar a irrupção de movimentos de base combativos que possam evoluir num escala massiva?

* O lulismo sobreviverá sem Lula como “guia”?

O próprio chefe de pesquisa econômica do banco Goldman Sachs, Jim O’Neill, criador do termo BRIC, diz estar "um pouco preocupado" com o pós-Lula. “Preocupa-me que o próximo presidente brasileiro tenha alguma dificuldade inicial”, diz ele. "É difícil substituir um líder bem-sucedido. Quando as pessoas me dizem que as próximas eleições não farão diferença, me preocupa, porque provavelmente serão importantes.”

Está difícil enxergar os cenários pois eleitorais sim Lula, inclusive como quedara a relação de forças entre o PSDB - se logra manter o governo de SP - e o PT na presidência, quais as relações com as centrais governistas, etc. Seguramente os cenários serão bem mais instáveis politicamente, com Dilma na presidência não podemos descartar maior giro a direita das classes medias que leve a maior polarização, nem tampouco maior intervenção da classe operária não só a efetiva sino também a precarizada. Nem descartar, como já vários analistas assinalam, que o ano que vem o Brasil comece a sentir os efeitos da crise internacional que este ano não chegaram o que pode levar a lutas de resistências a os ataques.

Temos que nos preparar no ano que vêm, para cenários mais instáveis e de maior luta de classes.

Para a central unificada que surja desde CONCLAT, está colocado se propor como alternativa COMBATIVA E CLASSISTA às centrais governistas. Temos que definir o conteúdo desta unidade como já adiantamos acima, votar as resoluções das campanhas políticas essenciais, e estabelecer um método de funcionamento e eleição da direção. Ainda que tenha importância as definições eleitorais, as quais concordamos em discutir, incluindo os candidatos que melhor apresentem a política de classe, alertamos que esta questão e suas definições, não podem nortear o congresso, sem correr o risco de cair numa orientação propagandística. Para armar todas as entidades para os desafios que temos pela frente, no ponto seguinte propomos um plano de ação.

3. Plano de lutas
Propomos uma orientação geral de princípios, considerando a diversidade de reivindicações de todos os sindicatos que compõem o CONCLAT.

1) Discutir com centralidade o balanço de todas as greves que aconteceram no último período em que teve responsabilidade a Conlutas e a Intersindical.

Este ponto é fundamental, para tirar lições e preparar as batalhas futuras. Por isso, temos que recuperar as melhores tradições de nossa classe internacional e de suas correntes revolucionárias fazendo balanços da atuação na luta de classes, concretos e reais, baseados nas conclusões das principais intervenções em que tivemos responsabilidade de direção, ou quando fomos minoria. Partindo desta consideração rechaçamos os balanços abstratos e propagandistas que não permitem tirar conclusões para rearmarmos, nem estabelecer com clareza as responsabilidades da direção. Achamos fundamental fazer os balanços das principais provas a que fomos submetidos: LG-Phillips, Embraer, GM, Revap, e a greve da USP de 2009 e agora a greve de professores de SP março/abril 2010. Nós consideramos que a Conlutas e a Intersindical não estivemos à altura das necessidades da luta de classes.

2) Contra a política corporativista das centrais e sindicatos governistas.
Campanha pública nacional, sistemática e nas estruturas, pela unidade das fileiras operárias entre efetivos, contratados, terceirizados, precarizados e desempregados. E uma prática política sistemática neste sentido.

* Efetivação de todos os trabalhadores com iguais direitos.
* Eleição de comitês de fábrica e empresas em todas as estruturas que dirijam a Conlutas e a Intersindical, com delegados conjuntos de efetivos e contratados, sindicalizados ou não, para forjar a unidade na base de fábricas e empresas e lutar efetivamente contra a influência do estado em nossas organizações. Assembléias resolutivas como órgãos supremos de decisão.
* Divisão das horas de trabalho sem redução salarial “trabalhar menos, trabalhar todos”.

3) Solidariedade ativa, concreta e efetiva com todos os trabalhadores em luta e que enfrentem a burocracia sindical.
Coordenação imediata de todos os setores em luta dos sindicatos, empresas e categorias que dirijam o co-dirijam a Conlutas e a Intersindical.

4) Lutar para transformar a luta reivindicativa em luta política, lutando por uma ampla aliança operária e popular, não só para apoiar a luta dos trabalhadores, mas também assumindo as demandas dos setores populares, começando pelo povo pobre e os estudantes, colocando os trabalhadores como a única classe que pode dar respostas de fundo a esses setores. Como falava Lênin, devemos assumir essas demandas “não como simples sindicalistas e sim como verdadeiros “tribunos do povo”, assim, nós que assinamos essas teses, fizemos no ano passado na USP.

5) Lutar para reverter as demissões de Embraer e GM, manter essa demanda nos programas, não deixar passar nem aceitar as demissões, não podemos naturalizar as derrotas.

6) Campanha eleitoral.
Nossa proposta eleitoral tem que estar subordinada a luta de classes. Os parlamentares operários não são um fim em si mesmo, e sim porta-vozes para denunciar as camarilhas parlamentares e essa corja de bandidos à serviço do capital e para convocar os trabalhadores para luta fora do parlamento. Mas não somos abstencionistas e temos acordo em utilizar as eleições para fazer propaganda das políticas operárias e revolucionarias. Lutamos por uma frente classista. Rechaçamos a chamada Frente de Esquerda com objetivos eleitorais com partidos que praticam a conciliação de classes como o PSOL e o PCB, a independência política da classe operária é uma estratégia não um problema tático. Por isso, apoiamos a candidatura à presidência de Zé Maria por ser referência para um setor da classe operária.

Nós que assinamos esta tese, estamos contra desenvolver um programa de governo, já que não temos que alentar nas massas a possibilidade de chegar a um governo socialista de ruptura com a burguesia, pela via eleitoral.

Achamos que a chave da agitação, tem que ser o chamado aos trabalhadores a não votar em seus carrascos e sim em sua classe. Que o Conclat abra esta discussão.





4. Estrutura Sindical

Consideramos que os sindicatos são ferramentas dos trabalhadores para a luta de classes em um sentido amplo, começando pela luta reivindicativa, mas para levar essa luta ao terreno político contra a burguesia, para acabar com esta sociedade de exploração, por uma nova sociedade dirigida pelos trabalhadores. Neste sentido, lutamos por sindicatos e centrais classistas e para a luta de classes. Contra toda a estrutura varguista, queremos em primeiro lugar sindicatos e centrais independentes do estado burguês, seus governos, suas instituições e partidos políticos. Contra a burocratização das organizações operárias, que se baseia fundamentalmente nos privilégios matérias começando pelo direito de não trabalhar, lutamos por:

1) rotatividade dos dirigentes mantidos pelo sindicato, depois de um mandato tem que voltar ao trabalho;

2) outro ponto essencial contra a burocratização dos dirigentes sindicais: as assembléias de delegados com mandato, como órgãos resolutivos máximos, nenhum dirigente pode ter mais autoridade do que esta instituição;

3) diretivas constituídas sobre a base da proporcionalidade;

4) ampla organização nos lugares de trabalho, delegados eleitos em assembléias revogáveis e com mandato das bases, com representação de toda a estrutura (sindicalizados ou não, efetivos, contratados, terceirizados);

5) estamos contra a independência dos sindicatos de todos os partidos, não igualamos partidos burgueses e proletários, o que constitui um ponto fundamental para nossa corrente. Pelo contrario junto aos combativos operários de Zanon e seu sindicato classista queremos liberdade para todas as tendências políticas que reivindicam a classe operária e suas instituições e lutamos para que a classe operária conquiste sua ferramenta política. Para nós este ponto é fundamental;

6) não aceitação do imposto sindical compulsivo, em caso de ter que aceita-lo abrir uma conta bancaria independente para colocar esse dinheiro como fundo de greve à serviço dos trabalhadores em luta.

5. Concepção e prática sindical:
Unificação da Conlutas com a Intersindical

Em primeiro lugar temos que estabelecer em que contexto se dá o processo de criação de novas centrais sindicais. Este processo se dá nos moldes determinados pela Lei de Reconhecimento das centrais sindicais promulgada por Lula, em acordo com a burocracia sindical das demais centrais. Essa lei foi uma negociata com as centrais sindicais que apoiam o governo Lula, e todas buscaram garantir o controle burocrático sobre os sindicatos (mantiveram a unicidade sindical, ou seja, mesmo traindo, os trabalhadores não podem fundar outro sindicato combativo). Todas as centrais eram politicamente reconhecidas e existiram até 2008 sem precisar se submeter a qualquer tutela estatal. Com essa lei, tudo muda, e as centrais ficam atreladas ao Estado, o que significa um retrocesso de todas as conquistas políticas alcançadas pela luta operária nos anos 1970 e 1980, quando as centrais foram reconhecidas “na marra” e a própria Constituição de 1988 deixou de exigir que os sindicatos fossem homologados pelo Ministério do Trabalho (como na época da ditadura e desde os tempos de Getúlio Vargas).

Como disse o sociólogo Ricardo Antunes em Maio de 2008, no Estadão, “isso configura o triste caminho que atravessamos: o da reaproximação entre o Estado e os sindicatos - cada vez mais servis e incapazes de organizar os trabalhadores de modo autônomo. Está em curso um processo de re-estatização sindical no País. Desde o getulismo, as centrais sindicais nunca dependeram tanto do Estado para sobreviver quanto dependem agora”.

Enquanto os burocratas sindicais atrelados ao governo e à patronal ganham milhões, têm cargos nas empresas privadas e órgãos públicos, mantêm postos como vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e até presidente da República, os trabalhadores sofrem os efeitos da exploração capitalista e a população pobre – em sua grande maioria assalariados precarizados - morren nas enchentes, deslizamentos de terra e nas chacinas orquestradas por grupos de extermínio e policiais.

Que unidade queremos construir?
Tanto do lado da Conlutas como da Intersindical o discurso é de constituir “uma central classista e unitária para as luta dos trabalhadores” para superar a “fragmentação do movimento sindical” produzida pela cooptação da CUT ao âmbito do governo Lula e aos interesses diretos dos capitalistas. Nesses termos, não haveria ninguém que pudesse se contrapor à fusão desses dois blocos constituídos a partir da ruptura com o PT e com a CUT.

Faz falta realmente uma central sindical classista, unitária e para a luta de classes, o que exige ser independente de todos os governos burgueses e do Estado e estar fundamentada em um programa avançado de combate aos capitalistas e suas instituições - partidos patronais, leis, justiça, polícia, parlamento - que unifique os interesses de todos os trabalhadores - efetivos, terciarizados, precários e informais -, superando o velho sindicalismo corporativista, legalista e pacifista que divide e isola os trabalhadores por sindicatos (categorias) e, pior ainda, deixando de lado todo o grande contingente (majoritário) de assalariados sem carteira assinada. Esse sindicalismo herdeiro do regime sindical de Getúlio Vargas, como o que foi moldado pelo petismo, tem que ser superado. Os trabalhadores necessitam de organizações de combate que lutem primeiramente pela unidade da classe superando a derrota que impôs o neoliberalismo.



Necessitamos uma organização sindical que priorize a luta de classes e não a propaganda do socialismo

Uma organização sindical unitária e classista deve antes de tudo ter em seu programa a resposta para o principal problema que atinge a classe trabalhadora nacional: a fragmentação imposta pela ofensiva neoliberal que dividiu a classe ao meio, com mais da metade sem direitos trabalhistas, com salários miseráveis e condições sub humanas de trabalho e uma pequena parte preservando carteira assinada, direitos trabalhistas e outras conquistas mínimas.

Hoje os próprios trabalhadores precarizados vivem humilhados trabalhando ao lado de companheiros efetivos mas acreditando que nunca poderão ter esses direitos mínimos.

Os trabalhadores efetivos se sentem privilegiados e são estimulados pelos burocratas sindicais, a patronal e a propaganda ideológica a não enxergar no seu companheiro terceirizado um irmão de classe, um igual, e na realidade olham para o lado com medo de serem os próximos a viver nessas péssimas condições de exploração. Esse sentimento defensivo - ter medo de perder o emprego numa fábrica que “tem direitos” e virar um precarizado - se torna terreno fértil para os burocratas sindicais e a patronal seguirem impondo essa divisão, pois os patrões e seus agentes - os pelegos - sabem muito bem a força política que teria a classe trabalhadora brasileira com seus 90 milhões de assalariados unidos em torno de um programa comum e um propósito firme de colocar essa força para atacar o coração dos capitalistas - o lucro - organizando com seus métodos lutas políticas para vencer e não apenas lutas sindicais para conseguir uma migalha, enquanto os capitalistas enriquecem cada vez mais com os baixos salários e a precarização de milhões.

A classe operária tem um problema estratégico para solucionar se quer derrotar os capitalistas, isto é, necessita antes de tudo unir as suas fileiras.

Precisam dar passos firmes para se organizar de modo a disciplinar e passar por cima da burocracia sindical, começando pela unidade da base nos locais de trabalho, impondo comissões de fábricas democráticas de efetivos e precarizados.

Esse é o verdadeiro conteúdo classista e uma tarefa fundamental que qualquer central classista e combativa deveria assumir, colocando na prática uma forte campanha com esse conteúdo e rechaçando a ingerência do Estado, colocando os fundos do imposto sindical a serviço das lutas operárias dos efetivos e precarizados, numa conta especial de fundo de greve, dinheiro esse que deve ser fiscalizado e controlado pelos trabalhadores, com prestação pública das contas.

A unificação Conlutas-Intersindical vai nesse caminho?

Se olharmos as definições programáticas e a prática sindical e política dessas duas organizações, sem nos deixar levar por palavras e discursos, infelizmente devemos dizer que o caminho que as direções perseguem não vai nesse sentido, inclusive o próprio processo de fusão não é o produto da confluência nas lutas, de um processo orgânico nas bases, e sim um acordo de tendências, são esses os limites que temos que superar.

Em janeiro de 2009, no Fórum Social Mundial, no Pará a Conlutas e a Intersindical aprovaram por consenso uma Plataforma e um Plano de Ação que pretendia responder à crise e a proposta de construção de uma nova organização sindical unitária. Estávamos em plena crise capitalista, com a patronal demitindo em massa (desde dezembro, 650 mil trabalhadores perderam seus empregos, incluindo os 4.600 demitidos da Embraer dirigida pela Conlutas) e cortes de salários e direitos, que eram aceitos sem qualquer mobilização pelas centrais sindicais oficiais. Este manifesto tinha como “programa” central a exigência para que Lula editasse uma medida provisória (MP) que “garantisse a estabilidade no emprego” que de fato significava defender a estabilidade apenas para os efetivos, já que não se exigia o fim da precarização e a garantia de emprego para todos os trabalhadores, e deixando tudo nas mãos da boa vontade do governo, enquanto Lula destinava bilhões para salvar os lucros empresariais e dos banqueiros.

Foi correto alimentar a ilusão de que diante da crise capitalista os trabalhadores poderiam garantir seus empregos sem deflagrar uma luta firme e decidida, apenas pedindo que o governo dê uma “canetada”, mesmo que essa fosse uma “possibilidade absolutamente remota”?

Com isso, tanto a Conlutas como a Intersindical ficaram, durante meses, perseguindo essa “possibilidade”, pressionando o governo do PT (apenas com panfletos e discursos), sem impulsionar um combate frontal às direções da CUT, Força Sindical e outras que falavam que o governo estava com os trabalhadores enquanto negociavam acordos de rebaixamento salarial, demissão de contratados, retirada de direitos e acabavam livrando a cara de Lula perante os milhões de trabalhadores. Essa política concreta dos pelegos visava impedir qualquer mobilização, propondo aos trabalhadores confiarem nos acordos e que a crise passaria com a ajuda de Lula.

O manifesto e a prática da Conlutas e da Intersindical não ajudavam a superar essa passividade imposta pelos burocratas sindicais, ajudando os trabalhadores a confiar apenas em suas forças e exigindo de suas direções que implementassem um plano nacional de luta, unificando todas as categorias que sofriam os efeitos impostos pela patronal em lutas reais (greves, manifestações, piquetes, ocupações de fábricas etc.).

O calendário central desse manifesto foi o dia 1º de Abril, “Dia nacional de luta pela estabilidade no emprego”, que acabou se realizando no dia 30/03 em unidade com a CUT, CTB, Força Sindical e demais centrais. Porém, esse dia não passou de mais um ato-palanqueiro, com discursos para esconder a verdadeira traição dos burocratas sindicais. Depois de dizer “não às demissões” reivindicava “redução dos juros”, isto é, a consigna central da FIESP e até mesmo do governo Serra. Sem papas na língua o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna), estampou o caráter de conciliação entre os interesses dos trabalhadores e dos patrões: “é uma demonstração de que é possível se unir em defesa da classe trabalhadora, pela queda na taxa de juros e contra o desemprego”. De lá para cá, o processo de unificação Conlutas-Intersindical avançou, via seminários e reuniões, para alcançar acordos parciais e propagandísticos não forjados na luta de classes, entre correntes e dirigentes, mas não significou qualquer avanço na unidade real que servisse para dar passos adiante na reorganização sindical e dos trabalhadores que orbitam em torno dessas entidades.

Um exemplo de que o processo de unidade entre Conlutas e Intersindical precisa mudar seu rumo e se ligar aos processos reais de luta é o caso das demissões da Embraer e da Vale, quando todos esses trabalhadores não puderam contar sequer com o apoio unitário dos sindicatos das duas organizações, que seguiram seus atos e manifestações isoladas e separadas.

Outro exemplo, logo depois, foi o caso da greve da USP, que se transformou numa luta vista e acompanhada diariamente em todo o país. Durante mais de três meses os trabalhadores da universidade - co-dirigidos por nossa corrente - foram a linha de frente de uma dura luta contra o regime monárquico da USP, em defesa das suas reivindicações e contra a repressão e a demissão de seu dirigente (Brandão). O país inteiro conheceu essa luta, que era debatida pela imprensa, envolvia políticos e intelectuais. A reitoria, a mando do governo Serra, invadiu a universidade com a tropa de choque, sitiando-a durante vários dias na tentativa de derrotar os trabalhadores e o seu combativo sindicato (Sintusp), uma das primeiras organizações da capital paulista a se filiar a Conlutas. Entre tantos apoiadores, de toda matriz política e ideológica, o Sintusp, Brandão e os trabalhadores da USP não puderam contar com os sindicalistas, personalidades e recursos da Conlutas nem da Intersindical. Faltaram atos, ajuda financeira, plano de unificação das lutas - os chamados para convocar encontros e coordenar os setores em luta (havia, nesse momento, campanha salarial dos metroviários, sabespianos, professores etc.), aprovados pelos trabalhadores da USP não obtiveram resposta positiva -, até mesmo ações de difusão da luta.

Enquanto essa luta heróica e exemplar se desenvolvia, a Conlutas e a Intersindical se reuniam em seminários para discutir a “unificação” propagandística, sem qualquer ligação com a luta mais importante do momento.

Assim se mostrava, concretamente, que essa “unificação” transcorria “por cima” (entre os aparatos) e sem quase nada a ver com a luta real dos trabalhadores. Até mesmo os representantes eleitos pela assembléia dos trabalhadores da USP foram impedidos de participar da reunião da coordenação da Conlutas no Rio de Janeiro, com o argumento “estatutário” de que estavam com débito financeiro (!!!).

Não basta se dizer anti-governista e até socialista, há que preparar esse combate dia a dia nas lutas cotidianas, desenvolvendo a “escola de guerra” como falava Lenin, para nos preparar para essa perspectiva que não vai a chegar pela via eleitoral nem cairá do céu.

Por isso nossa consigna é: mudar seu rumo e orientar a unificação ao serviço das necessidades da luta de classes.






6. Programa, princípios e estratégia

Estas críticas, baseadas em fatos reais incontestáveis, tem o objetivo de discutir franca e honestamente a urgente necessidade de que os dirigentes da Conlutas e da Intersindical mudem os rumos desse processo de unificação, fazendo-o chegar realmente às bases, ligar-se aos processos de luta existentes, tirando lições, aprovando planos de luta para que nenhuma luta (principalmente dos sindicatos dessas duas entidades) fique isolada, para que obtenha vitória e ajude os trabalhadores a enxergar que é possível lutar e vencer, não mais aceitando passivamente a demagogia do governo Lula e dos burocratas sindicais que deixam passar todos os ataques patronais.

Temos que discutir a necessidade de unificação da Conlutas e da Intersindical ligada a processos reais da vida dos trabalhadores e dos ativistas, superando os debates organizativos e aparatistas que buscam acordos deixando de lado as definições programáticas e de reorganização, também pela base, e a participação concreta dos atores das lutas e do combate contra o governo, a patronal e a burocracia sindical vendida.

Nós da LER-QI junto com os companheiros independentes que formamos o Movimento Classe contra Classe, participamos ativamente neste congresso de fundação, lutando desde os locais de trabalho e estudo onde estamos em defesa de uma perspectiva classista e combativa.

Caráter da nova entidade
Nós, estamos pela unidade na luta dos setores explorados e oprimidos, ou seja, pela aliança operária e popular, e que sejamos a favor de uma central sindical junto aos movimentos sociais, seguimos acreditando que a chave é a política e o modelo de sindicalismo que as organizações defendam. Estamos pela aliança operária e popular concreta, para desenvolver a luta anti-capitalista, com os sindicatos e movimentos sociais combativos que sejam ou não sejam parte da nova central.

Não acreditamos que esta questão possa se resolver com medidas organizativas e sim com uma política e uma estratégia para fazer avançar a nossa classe, para fazê-la confiar em suas próprias forças.

Este ponto tem a ver com as colocações que fizemos acima, da necessidade de um novo sindicalismo que rompa os moldes do “modo petista de militar”.

7. Composição e funcionamento da direção
Para nós a direção tem que ser composta pelos representantes das entidades sindicais e oposições, propostas pelas entidades e votados em plenária geral da nova central, com delegados que tenham mandatos das bases, com o método da proporcionalidade. Achamos também que nessa direção todas as correntes políticas que participam da construção da central tem que estar representadas, logicamente respeitando as proporções com respeito as entidades, mas também entre as próprias forças da esquerda. Nós queremos desenvolver todos os mecanismos que contribuam com a autodeterminação dos trabalhadores e por isso, lutamos para que a central que surja desta unificação, tenha um funcionamento baseado nas assembléias e plenárias gerais de delegados com mandatos, como órgãos resolutivos supremos, que não tem nenhuma instância por cima. Nada pode ser aceito nas negociações nem assinado sem ser avaliado na assembléia de trabalhadores. Mas faz falta ainda fazer um esclarecimento porque os nomes estão muito prostituídos pelo sindicalismo petista/cutista.

Queremos assembléias deliberativas e resolutivas e não atos nos carros de som onde só falam os dirigentes e não tem sequer nenhum debate para discutir balanços e perspectivas.

Queremos desterrar da prática do movimento sindical combativo os acordos por cima entre correntes e o chamado consenso das burocracias sindicais.

Queremos voltar a democracia direta, para que os trabalhadores tomem em suas mãos seu próprio destino, acreditamos na democracia direta e não nos dirigentes individuais.

Há que romper até o final com o modo petista de militar.
Lutam por essas teses:

Claudionor Brandão - minoria da diretoria do Sintusp
Marcello Santos- Pablito- trabalhador USP, represent. dos funcion. no C.O. USP.
Doménico Colaccio - trabalhador da USP, membro do Comando de mobilização
Celso Junior - trabalhador da USP e delegado de base
Mary Coseki - trabalhadora da USP e delegada de base
Pablo Alfonso – trabalhador da USP
Cleber – trabalhador da USP e delegado de base
Eusébio Costa – trabalhador da USP e delegado de base
Patrícia Alves – trabalhadora da USP e membro do comando de mobilização
Diana Assunção – trabalhadora da USP e da comissão coordenadora de mulheres do Sintusp
Francisco Curio – trabalhador do IBGE
Natalia – trabalhadora do IBGE
Cícero Gueves – trabalhador da Sabesp, membro da Oposição Alternativa de Luta
Marília Rocha – trabalhadora do metrô
Val Lisboa – trabalhador do metrô
Erivaldo – professor da rede pública estadual SP
Rita Frau - professora da rede estadual SP
Danilo Almeida – professor da rede estadual SP
Inaya - professora da rede estadual SP
Ricardo Festi – professor da ETEC
Rui Tresso – professor de Ensino Médio